Com a promessa de que se deixassem de comer e de beber água, morrendo de fome e de sede, teriam caminho aberto para irem de encontro a Jesus Cristo no Paraíso, dezenas de crentes de uma seita religiosa cristã no Quénia deixaram-se morrer seguindo as orientações do seu pastor.
O líder da seita cristã Igreja Internacional das Novas de Deus, Paul Mackenzie Nthenge, foi detido depois de pelo menos 58 pessoas terem sido encontradas numa vala comum do sul do Quénia, numa floresta com dezenas de hectares, admitindo as autoridades policiais que muitas mais vítimas possam ser descobertas, porque há mais pelo menos 112 desaparecidos.
Este fenómeno de seguimento impensado de líderes religiosos, por vezes de forma extrema até à morte, como foi um dos mais conhecidos o caso de Waco, no Texas, EUA, quando, em 1993, um ramo da Igreja Davidiana se entrincheirou na localidade, resistindo até à morte ao avanço das forças de segurança, procurando com este conflito alcançar o bíblico "fim dos dias".
Há outros casos menos graves mas ainda assim indicadores de desestruturação mental, como, por exemplo, tendo sido registados vários casos na América Latina, nos EUA e em África, incluindo em Angola, de pastores que incentivam os seus crentes a não enviar os filhos para a escola ou a optarem, durante a pandemia da Covid-19, por não se vacinarem, alegando que se morressem seria a vontade do Criador.
Nesta situação, o limite do bom senso foi totalmente ultrapassado, com, provavelmente, mais de uma centena de pessoas - muitas ainda por encontrar - terão aceitado o repto do pastor da seita cristã Igreja Internacional das Novas de Deus, Paul Mackenzie Nthenge, para deixarem de ingerir alimentos e água para acordarem no Paraíso após a morte.
A possibilidade de mais pessoas serem encontradas mortas é o mais provável porque nas últimas 24 horas a lista de vítimas das alucinações do pastor Paul Mackenzie Nthenge tem crescido de forma significativa.
Os media locais e internacionais estão a relatar esta segunda-feira, 24, que o pastor responsável por estas mortes se entregou às autoridades quando começaram a aparecer os primeiros corpos e a polícia iniciou uma caça ao homem, tendo sido um elemento da seita que não alinhou no suicídio colectivo proposto pelo religioso e o denunciou às autoridades.
Mas, entretanto, soube-se igualmente que este saiu em liberdade sob fiança de cerca de 800 dólares, apesar de vários políticos e organizações da sociedade civil ligadas à defesa dos Direitos Humanos terem exigido que não lhe fosse concedida a possibilidade de libertação mediante o pagamento de uma fiança.
Várias equipas forenses e de bombeiros estão dispersas pela floresta de mais de 300 hectares, perto da cidade costeira de Malindi, no sul do Quénia, a escavar nos locais onde algumas testemunhas indicaram existir valas comuns ou de acordo com evidências encontradas no solo.
Segundo ainda os media locais, quando a pol"cia se dirigiu à casa do pastor em Malindi, encontraram no seu interior 15 pessoas à beira da morte, tendo quatro acabado por não resistiram apesar dos cuidados médicos imediatos.
Há igualmente relatos de que alguns membros da seita, mesmo depois da detenção do pator, e já sob vigilância médica, continuaram a recusar alimentos e água.
As autoridades policiais temem que muitos dos desaparecidos estejam a esconder-se da polícia e das equipas de busca para manterem o jejum que os "levará" ao Paraíso.
O ministro do Interior queniano,, Kithure Kindiki, que apelidou este caso com "o massacre de Shakahola", nome da área central das buscas, recorreu às redes sociais para garantir que o Governo do Presidente William Ruto está a dar prioridade máxima a este caso, com centenas de agentes da polícia no local das buscas, que se estende por centenas de hectares.
O governante disse que este é um "caso claro de abuso do direito à crença religiosa" e acrescentou que o pastor responsável por este crime "tem de enfrentar um castigo exemplar", ao mesmo tempo que prometeu que todas as organizações religiosas, seja qual for o credo, vão ser alvo de um processo de sólida regulação.
Fonte: Novo Jornal