Centro Materno desenvolve programa para recuperar crianças desnutridas

 


Luanda - O Centro Materno-Infantil Boa Vida, localizado no KM-12 B (vulgo bairro da Estalagem), está a desenvolver, há uns anos, um programa de recuperação de crianças desnutridas, uma iniciativa da Igreja Católica, em Viana.

Diariamente, naquele espaço acorrem dezenas de famílias com crianças com problemas de desnutrição, para aderirem ao programa de recuperação que é supervisionado por um grupo de especialistas.

 Entre as muitas mulheres que procuram o centro, está a jovem Zita, de 31 anos. Mãe de sete filhos, a moradora do bairro Belo Monte, em Viana, era vendedora e fazia das "tripas coração” para aliviar o sofrimento de um dos rebentos que tem problemas de desnutrição. A situação da menina forçou-a a abandonar as vendas, para cuidar mais da menor, estando, neste momento, dependente de irmãs menores. Antes, a senhora, que preferiu ser identificada apenas por Zita, fazia o trajecto Cacuaco/Boavista, onde despachava o negócio, diariamente. Essa rotina deixava-a com pouco tempo para prestar atenção à filha.

 "Hoje, por causa da falta de boa alimentação, a minha filha não está bem. Luto pela vida dela e espero que ela saia dessa situação de desnutrição com a ajuda deste centro de Viana”, reconheceu esperançosa. Tal como a jovem Zita, Ngombo Manuel, que tem, igualmente, o filho desnutrido, explicou que a criança nasceu com uma massa na barriga e, por isso, tinha ficado três meses internado, no Hospital Pediátrico David Bernardino, onde foi recomendada uma dieta mais leve, porque o menino não podia ingerir comida pesada. A senhora desconfia que a aplicação dessa dieta terá originado outras patologias como a malnutrição. "O meu filho está a recuperar, mas, no princípio, entrei em pânico, chorava muito e clamamos a Deus para salvar o menino”, disse.

Ngombo fez o mesmo sacrifício que Zita, ao abdicar do emprego para dedicar a vida inteiramente ao tratamento do filho. "Era trabalhadora doméstica, mas, agora, passo quase todo o dia no hospital. E tem sido bom recuperar a criança”, disse. Ao deixar o emprego, outras consequências se seguiram. Por exemplo, dificilmente consegue dinheiro para comprar leite, papas e outra alimentação adequada ao filho, ficando dependente do que a criança come no Centro Materno-Infantil Boa Vida, em Viana.

Cerca de 20 crianças por dia

 Nesse centro, junto com os filhos de Zita e Ngombo, são atendidas, diariamente, cerca de 110 crianças com problemas de desnutrição, como revelou a enfermeira Teresa Quibinda. A técnica da área de Nutrição do centro referiu que, entre Janeiro e Junho do ano passado, o centro recebia, em média, cerca de 20 crianças que chegavam à consulta, pela primeira vez, assoladas pela má nutrição e 60 outras semi-internas. Neste momento, o número de crianças que dá entrada no centro reduziu para dez por dia, enquanto os menores em serviço semi-interno aumentaram para 100.

"O nosso centro não tem espaço para internamento, por isso os casos mais graves são transferidos para os hospitais Geral de Luanda, Cajueiros e Américo Boavida”, disse, para acrescentar que "as crianças semi-internas passam o dia na instituição, com vista a certificarmo-nos de que estão a ser alimentadas”. Teresa Quibinda referiu que, geralmente, as mães chegam ao centro deprimidas, em função dos problemas que enfrentam nos lares. Por conta disso, esclareceu que "nós, aqui, não só atendemos as crianças, mas, também, fazemos o papel de psicólogas dessas mulheres”.

A enfermeira acrescentou que, após conversa com as mães, é notável o desenvolvimento da estrutura e circuitos cerebrais, bem como a aquisição de capacidades fundamentais das mulheres que permitem o aprimoramento de diversas habilidades.

Nutricionista pede maior colaboração dos homens

Em entrevista ao Jornal de Angola, a nutricionista Maria Futi Tati apontou a fuga à paternidade e outros problemas sociais, entre os quais o desemprego e a pobreza, como situações que contribuem para que muitas crianças entrem nas estatísticas de desnutridas.

"Pedimos um maior envolvimento dos pais nos cuidados com os filhos, para que se possa evitar os casos de menores sem comida”, apelou. A médica realçou que outro grande factor tem a ver com mães solteiras, na sua maioria vendedoras ambulantes, que, ao passarem boa parte do dia na rua, não dispõem de tempo para alimentar em condições as crianças. A especialista, que fazia acompanhamento das crianças no Centro Boa Vida, realçou que os sinais mais comuns de uma criança desnutrida estão relacionados com febre, convulsões, diarreia líquida várias vezes ao dia, fraqueza, vómitos não controlados e falta de vontade da criança mamar. Apesar dos constrangimentos próprios de cada família, Maria Futi Tati aconselhou as mães com crianças desnutridas a optarem por uma alimentação equilibrada. "É necessário que as mulheres se informem sobre os alimentos nutritivos, pois, não se pode fazer um funje com óleo e pensar que alimentou a criança”, frisou.

Aposta em verduras

 A médica referiu que "a boa alimentação contribui para o controlo do ganho de peso da criança. E uma das armas é colorir a alimentação com verduras”. Maria Futi Tati avançou que a falta de boa alimentação causa anemia, hipotireoidismo, atraso de crescimento, distúrbios nervosos, entre outras doenças prejudiciais às crianças de hoje e futuros adultos. A antiga coordenadora nacional do Programa de Nutrição da Direcção de Saúde Pública disse que as famílias podem apostar mais em comidas fáceis de encontrar e a custo baixo, como as papas, leites e sopas fortificadas.

Fonte: JA

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