Luanda - O Hospital Américo
Boavida (HAB), à porta do qual esta madrugada morreu um jovem por falta de
assistência médica, trabalha há meses apenas com 25 por cento da sua capacidade
de prestação de serviços devido às obras de reabilitação e ampliação.
Ao Novo Jornal, uma fonte da
direcção do HAB explicou que o ideal seria, enquanto decorrem os trabalhos de
ampliação, o Executivo montar um hospital de campanha, provisório, para atender
à procura que está unidade sanitária recebe diariamente e para a qual não tem
resposta adequada.
Nesta altura o hospital atende
apenas os pacientes com patologias graves, ou seja, os que necessitam de
intervenções cirúrgicas, os que são reencaminhados de outras instituições
hospitalares e os com ferimentos graves de acidentes e queimaduras.
Ao Novo Jornal, um dos
responsáveis da administração deste hospital público de referência em Luanda,
disse que o certo seria que as autoridades encerrassem completamente o Hospital
enquanto decorrem às obras.
Entretanto, este responsável
disse ainda que tal situação só não acontece devido ao défice nos serviços
assistenciais que muitas unidades sanitárias têm a nível da província de Luanda
e do País.
Contou também que as obras em
curso no hospital atrapalham, claramente, os trabalhos clínicos naquela
instituição.
Recentemente, continuou, devido
às obras, partes das paredes dos quartos e salas começaram a cair, Este
responsável explicou que apenas para o internamento estão disponíveis perto de
100 camas, contra as 800 anteriormente.
Questionado se houve redução ou
transferência de enfermeiros e médicos para outras unidades de saúde, em função
de carência destes profissionais em muitas das unidades sanitárias, este
responsável não soube precisar, pensa embora reconhecer haver necessidade.
"Essa é uma questão que o
Ministério da Saúde deve analisar e resolver. Mas por enquanto, na verdade,
trabalhamos limitados e congestionados em função das obras em curso",
explicou, acrescentando que, "daqui a dois ou três anos, teremos um novo
Hospital Américo Boavida e aí as coisas serão de facto outras e os pacientes
melhor atendidos".
Ao Novo Jornal este responsável
adiantou que o HAB já fechou muitos dos seus serviços, em função dos trabalhos
de ampliação e reabilitação.
"A maioria dos nossos
serviços e os pacientes foram transferidos para o Hospital Josina Machel (ex
Maria Pia). O HAB de facto a beneficiar de uma obra profunda com a construção
de mais quatro edifícios", salientou.
"Ainda que limitada, o
Hospital Américo Boavida continuará em funcionamento", diz o responsável
máximo da instituição
Em 2021, em declarações à
imprensa, após a visita do Presidente da República, João Lourenço, aquela
instituição sanitária, o director geral do Hospital Américo Boavida, Mário
Fernandes, garantiu que a unidade continuará em funcionamento, ainda que
limitado, durante as obras.
"É lógico que esta unidade
não pode encerrar definitivamente, por estarmos numa zona que é central, mas
alguns serviços de especialidade terão de sair para que amanhã possamos ter um
hospital maior e melhor", argumentou na ocasião o responsável, facto que
agora muitos profissionais negam não fazer sentido em função dos constrangimentos
que as obras têm causado.
Naquele ano, o director confirmou
a diminuição da capacidade do hospital, pelo facto de terem de fechar algumas
enfermarias e serviços, em função de riscos de desabamentos e infiltrações.
Ao Novo Jornal várias pessoas,
sobretudo utentes, disseram desconhecer as limitações do Hospital Américo
Boavida, no que toca aos serviços, e são de opinião que as restrições sejam
divulgadas para que os pacientes procurarem outras unidades sanitárias.
Apesar de conhecerem a existência
das obras no hospital, estes utentes defendem que os serviços agora
inexistentes devem ser comunicados, por escrito, logo à porta da instituição e
são de opinião que a direcção divulgue.
Entretanto, como avançou esta
manhã o Novo Jornal, um Jovem de 25 anos morreu na porta do HAB, após ter sido
levado para aquele hospital, quando passava mal, e lhe foi rejeitado o
atendimento pelos maqueiros e seguranças, sob argumento do que o hospital só
está a receber pacientes transferidos de outras unidades sanitária.
Os familiares do jovem clamam por
justiça e exigem responsabilização do hospital por negligência.
O custo das obras
Obras arrancaram em Janeiro de
ano passado e o novo hospital será entregue em 2025, com o Governo a gastar
148,5 milhões de dólares
Em declarações à imprensa em
2022, o Presidente da República, João Lourenço, garantiu que, dentro três anos,
o País vai ter um novo Hospital Américo Boavida. Isto em 2025.
Entretanto, o Governo vai gastar
148,5 milhões de dólares norte-americanos para pôr em prática, mediante um
ajuste directo, o projecto de reabilitação, ampliação e apetrechamento do
Hospital Américo Boavida, valor assegurado pela linha de financiamento do banco
Inglês Standard Chartered.
Aos 148,5 milhões USD acrescem
739,7 milhões de kwanzas (1,2 milhões USD) para os serviços de fiscalização da
empreitada. A obra para reabilitar o segundo maior hospital de Luanda, o HAB,
vai custar mais 20 milhões de dólares do que a construção, de raiz, do Complexo
Hospitalar General Pedro Maria Tonha "Pedalé".
O Américo Boavida, o segundo
maior hospital de Luanda, esteve no epicentro de um vendaval de críticas em
Maio, de 2021, quando surgiram várias imagens e vídeos na internet que
mostravam a unidade de saúde a rebentar pelas costuras, com gente deitada no
chão a aguardar vez nas urgências, situação que levou a ministra Sílvia
Lutucuta a mudar a direcção da instituição, substituindo Agostinho José Matamba
pelo cardiologista Mário Fernandes.