Cabinda - Os comerciantes de
peixe na província de Cabinda estão preocupados com a subida deste produto nos
últimos meses e dizem ser muito dispendiosos os custos dos alugueres dos
camiões frigoríficos, nas províncias de Benguela e Luanda, que, por falta de
uma ligação terrestre com aquele enclave, têm obrigatoriamente de passar pela
vizinha República Democrática do Congo (RDC) para atingir esta província
angolana.
A subida da caixa do peixe nos
mercados de Benguela e de Luanda faz com que estes comerciantes grossistas
tenham ainda mais dificuldades na aquisição deste produto, o que faz com que os
revendedores aumentem o preço do peixe nos mercados de Cabinda.
Esta situação foi reportada ao
Novo Jornal pelos próprios comerciantes grossistas que dizem comprar a caixa de
peixe, carapau, corvina, cavalo, e "lâmbula" (sardinha) acima dos 40
mil kwanzas.
Segundo os comerciantes, é agora
difícil vender uma caixa de peixe em Cabinda, visto que os preços praticados,
actualmente, nos mercados, afugentam os compradores.
Sérgio Damião, um grossista de
frescos de um ponto de venda em Cabinda, contou que os mercados estão quase sem
clientes.
Os comerciantes, que descreveram
a situação ao Novo Jornal, disseram que a província vive do peixe congelado,
visto que a pesca local não satisfaz a procura, atendendo à particularidade das
águas do mar de Cabinda, que estão quase sempre poluídas.
Contam também que os pescadores
locais enfrentam dificuldades na aquisição do combustível.
"Nós, pescadores, estamos a
comprar o peixe muito caro, a caixa está a custar 40 mil kz", disse Marta
Figueiredo, também comerciante de um ponto de venda de peixe.
Segundo os comerciantes, que
narram o problema ao Novo Jornal, os camiões frigoríficos cobram também a caixa
em que é transportado o peixe, pedindo entre os 4.000 e os 5.000 kz, por cada
uma.
"Imagine comprar mil caixas
de peixe a 40 mil kz e pagar mais 5.000 por cada caixa?", declara o
comerciante grossista Sérgio Damião, que favou em nome da maioria dos
grossistas insatisfeitos com o alto preço da caixa de transporte do peixe.
Conforme os grossistas, está
difícil realizar lucros nas vendas do peixe em Cabinda, atendendo aos gastos
que têm com o seu transporte, que exige passar o produto pela RDC, via
província do Zaire, para depois chegar ao território de Cabinda.
Os comerciantes questionam por
que razão não é feita a descarga do peixe congelado pelos barcos carregadores
que há muito deixaram de atracar em Cabinda.
"Acho que há mãos invisíveis
do sector das pescas que não quer ver nenhum barco carregador em Cabinda, só
pode ser isso! Porque não vejo motivos, concretos, para a província ser
abastecida por terra. Alguém está a lucrar com tudo isso", desabafou um
habitante de Cabinda, que preferiu não ser identificado.
Entretanto, um alto funcionário
do sector das pescas em Cabinda, que solicitou igualmente anonimato, o problema
está na falta de um porto pesqueiro localmente, mas salientou o problema ficará
resolvido com a inauguração do Porto de Águas profundas do Caio, em 2024.
Segundo o PCA do Porto de
Cabinda, com o processo de dragagem, estarão criadas as condições para o avanço
normal e regular dos trabalhos de construção do Porto de Águas profundas do
Caio, por um lado, e por outro, a certeza de que as obras serão concluídas na
data prevista, isto é, em Dezembro de 2024.
Junto destes grossistas que, no
início deste ano, havia um barco carregador pertencente a uma empresa privada
que atracava em Cabinda e descarregava grandes quantidades de peixe congelado,
o que facilitava a vida dos comerciantes, mas "do nada este barco deixou de
atracar em Cabinda".
Questionada a fonte do sector das
pescas, não aceitou referenciar o nome da empresa que abastecia o enclave, mas
assegurou que este barco deixou de ligar Luanda/Namibe e Cabinda, por não ter
os padrões exigidos pelas autoridades, visto que o mar de Cabinda não tem um
caudal muito profundo.
Este alto responsável,
pertencente ao Governo Provincial de Cabinda, confirmou que a província está
sem abastecimento de embarcações pesqueiras, e não aceitou entrar em detalhes.
Vale lembra que, no passado mês
de Maio, a ministra das Pescas e Recursos Marinhos, Carmen Neto dos Santos,
visitou Cabinda para, junto das autoridades locais, estudar as formas de
equacionar questões que estão a causar constrangimentos, na prática, bem como
avaliar os factores que estão a condicionar o desenvolvimento do sector na
província.
A ministra referiu que a
responsabilidade de trazer o peixe à mesa da população obriga o ministério a
direccionar as suas acções, nas questões que causam constrangimentos, quer na
produção sustentável no mar, quer na pesca continental.
"O nosso objectivo está
traçado e com base na realidade local temos a necessidade em conjunto de
organizar a pesca, trazer para Cabinda a outra parte do ministério referente
aos recursos marinhos que podem proporcionar uma organização sustentável",
disse a ministra na ocasião.