A
inflação pode ficar acima de 20% no final do ano se o kwanza não recuperar e
não forem adoptadas políticas monetárias mais restritivas, estimam os analistas
do Banco de Fomento Angola (BFA).
Numa nota enviada aos clientes, a
que a Lusa teve acesso, o gabinete de estudos económicos do BFA salienta que o
aumento dos preços em agosto não derivou unicamente de factores sazonais,
apontando a variação dos preços alimentares, prevendo que o trajecto da
inflação mensal e homóloga se mantenha ascendente nos próximos meses.
Na última reunião do Comité de
Política Monetária (CPM), realizada no dia 15 de setembro, o Banco Nacional de
Angola (BNA) decidiu manter inalteradas as taxas de juro directoras, atribuindo
a variação de preços a factores sazonais e insuficiência da oferta de bens e
serviços.
A inflação homóloga acelerou em
agosto para 13,53%, pela quarta vez consecutiva, alcançando níveis próximos dos
máximos de dezembro de 2022 (3,86%), enquanto a inflação mensal alcançou os
2,04%, o nível mais alto desde dezembro de 2021.
"Acreditamos que a inflação
homóloga terminará o ano rondando os 20% ou acima caso não haja alguma
recuperação do kwanza e também um forte aperto da política monetária tendo em
conta que com os actuais dados relativos ao mercado monetário o BNA deixou de
tornar restritiva a política monetária", refere a nota do BNA.
Os analistas prevêem que a
inflação poderá estar acima da meta de curto-prazo definida pelo BNA, entre
12-14%, já no mês de setembro, influenciada pela inexistência de uma inversão
da taxa de câmbio.
"Assim, esperamos que sejam
utilizadas outras medidas de restrição da política monetária como por exemplo,
o ajuste nos rácios das reservas obrigatórias e a continuação do aperto no uso
das facilidades permanentes de liquidez", adiantam.
"Observando as pressões
inflacionárias dos últimos meses, acreditamos que o BNA deverá utilizar outros
instrumentos de política monetária uma vez que as taxas de juro directoras já
se encontram altas. Do lado do câmbio, num cenário em que não se verificar a
inversão do seu movimento, é expectável que a política monetária volte a
tornar-se "mais apertada", de acordo com os economistas do BFA.
O mercado cambial não apresentou
variações significativas, uma vez que a taxa de câmbio ronda os 825 kwanzas por
dólar desde meados de julho, depois de a moeda angolana ter depreciado mais de
45% no semestre passado.
"No geral, acreditamos que o
BNA não tem alterado os instrumentos de condução da política monetária por
estar ainda a avaliar os efeitos das medidas passadas de modo a manter o
equilíbrio no mercado monetário", mas caso a inflação continue a subir,
"o BNA deverá intervir de maneira mais forte no sentido de voltar a
restringir a liquidez", defendem os analistas.