Subinspector denuncia suposto esquema de corrupção na polícia nacional e foge para a Europa por temer pela vida

 

Mateus Xinganeca do Rosário, de 39 anos, é subinspector da Polícia Nacional, afecto à Direcção Nacional de Informações Policiais e presta serviço no Comando Provincial de Luanda. Tem sido vítima de perseguição por indivíduos ligados à Direcção do SIC e aos serviços de contra-inteligência, conforme revelado em um áudio enviado à redacção do Hold On Angola e publicada no canal do Youtube do Angola Transparente.

Em 2021, Rosário foi detido sob uma acusação de homicídio que alega ser fabricada por pessoas associadas ao SIC. Após três meses e 17 dias de detenção, durante os quais nenhum mandado de detenção foi emitido, ele foi libertado. Realizou uma investigação que, segundo ele, comprovou a falsidade da acusação.

Durante a pesquisa, analisou canais do YouTube, incluindo JPrivado e Henrique Stress, identificando dois suspeitos retirados da esquadra do Rastas por uma viatura preta Hyundai i10, acompanhados por três indivíduos."Descobri que minha detenção foi resultado de uma acção perpetrada pelos indivíduos ligados ao SIC no território dos Rastas, onde ocorreu a morte de dois jovens. As famílias dessas vítimas buscaram responsabilização, e eu acabei sendo sacrificado nessa situação. Essa informação veio à tona após extensas investigações e relatos dos familiares das vítimas, revelando a ilegalidade da minha detenção, pois não havia mandado de captura, e os dois indivíduos levados pelo SIC no carro i10 foram encontrados mortos", esclareceu.

Rosário afirma ter enfrentado ameaças intensas de indivíduos vinculados ao SIC, as quais foram comunicadas ao Director Municipal Manuel Chico Caxibo, sem obtenção de resposta. Continuando suas actividades como agente de informação, investigou práticas ilícitas na região do Zango, abrangendo casas de prostituição e redes de venda ilegal de materiais provenientes da Sonangol, entre estes: bidões e logotipos da Sonangol para adulteração de Diesel e que esta mesma rede são assegurados por indivíduos ligados ao SIC. "Fomos à Direcção de operações do SIC Luanda, juntamente com o meu Director Provincial Manuel Chico Caxibo, mantivemos contacto com o Senhor Noé da Rosa para relatar ameaças. Colegas do SIC afirmavam que havia bandidos que queriam me ver morto, pois eu estava a interferir em suas actividades no distrito do Zango. Essa informação foi partilhada também com o Senhor Santos, o actual director Provincial de Operações do SIC Luanda", disse.

"Em 2020, numa incursão ao território do Kilamba com dois colegas, visitamos um casino próximo ao Instituto Superior de Polícia Dr. Osvaldo Serra Van Dunem. Durante a estadia, estabelecemos contato com Maria, uma cidadã chinesa, que nos conduziu a um estaleiro local. Dentro dessas instalações, descobrimos uma operação que, alegadamente, envolvia a comercialização de caixões destinados às Forças Armadas Angolanas.

"O esquema, supostamente associado a altas patentes, oferecia esses caixões por 700.000 Kz. Alegadamente originários da China, financiados pelo governo angolano e vendidos no mercado negro, essa descoberta foi percebida como um risco iminente para a segurança. O simples acesso a essas instalações agora é considerado como uma ameaça à integridade pessoal", relatou.

O subinspector, revelou uma nova frente em suas denúncias, apontando para um suposto esquema de facilitação na obtenção de bilhetes de identidade para cidadãos estrangeiros à preço de 100 dólares. Esta operação ilegal foi identificada durante uma investigação conduzida por ele no mesmo ano das ocorrências anteriores.


A denúncia sugere que o director do posto de registo no Kilamba Kiaxi, identificado como Senhor Rui dos Santos, estaria envolvido na rede que falsificava documentos para atribuir nacionalidades a cidadãos da RDC , Ghana, Nigéria,  e entre outros países. De acordo com documentos apresentados por Mateus do Rosário, incluindo mensagens trocadas entre o Director e membros do esquema, o subinspector afirma ter evidências substanciais sobre as actividades ilícitas.

No entanto, formalmente esses documentos foram entregues ao seu Director superior, e também ao Director do Kilamba Kiaxi, conforme o seu relato. E em resposta a essas acusações, o Director do posto teria proferido graves ameaças contra Mateus do Rosário, incluindo sua experiência passada como agente do Estado na África do Sul.

"Se os cidadãos nacionais nos arredores do posto de registo não possuem bilhete de identidade, como é possível que haja uma facilitação na atribuição de nacionalidade angolana a cidadãos estrangeiros?" Questionou Mateus

Outra denúncia revelada aponta para uma investigação na qual foi identificada uma rede de marginais envolvidos em roubos a armazéns de grande porte. Durante essa operação, coordenada por Mateus e com a colaboração de colegas do SIC Viana, conseguiram deter um membro ligado a esse grupo, cuja base estava localizada em Cacuaco.

Segundo as informações fornecidas por Mateus, os indivíduos detidos possuíam duas viaturas da marca Toyota, modelo Land Cruiser, cor branca, fabricadas em 2010. Além disso, o grupo tinha em posse oito armas de fogo, seis carros e duas pistolas.

Após a detenção do suspeito, o subinspector e seus colegas, em colaboração com o conhecimento do Director municipal, cujo nome não foi revelado, dirigiram-se à esquadra de Luanda Sul. A missão planeada visava o desmantelamento completo do grupo, que era considerado altamente perigoso devido às armas de fogo e ao número significativo de veículos sob sua posse.

No entanto, a operação não se concretizou conforme o planeado. Durante a viagem, o líder da missão, identificado como camarada Joãozinho, chefe da brigada do SIC na Esquadra 46 em Luanda, recebeu um telefonema que aparentemente modificou os rumos da actividade. O subinspector informou ao Hold On Angola e para o Angola Transparente que não receberam explicações adicionais sobre as mudanças de planos. De maneira surpreendente, o informante que forneceu detalhes cruciais sobre o grupo enfrentou um desfecho infeliz.

Portanto teve que fugir para Moçambique, mesmo estando lá continuou a receber informações sobre possíveis riscos. Quase foi abordado por indivíduos em uma viatura descaracterizada. Aconselhado por moradores locais, partiu para o Reino de Essuatíni.

Relatou uma tentativa de execução no "Recepter Center" em Essuatíni, envolvendo indivíduos ligados ao governo angolano. Viajou por diversos países africanos, enfrentando ameaças e levantamentos visuais de supostos agentes de inteligência.


Actualmente na Europa, Rosário vive com a incerteza sobre a continuidade das ameaças, considerando-se ainda não totalmente seguro. Até o momento, nem as autoridades angolanas, nem o ministério ao qual está vinculado, se pronunciaram oficialmente. Mesmo após relatar a situação ao seu Director provincial, não houve uma resposta formal. Sentindo-se injustiçado, ele destaca sua dedicação à manutenção da ordem pública em diversos territórios de Luanda, ao exercer sua função como chefe de brigada de informações policiais em várias esquadras a nível da capital.

O mesmo clama por justiça, esperando que situações semelhantes não se repitam, visto que há indivíduos que se consideram herdeiros das instituições do Estado ou usurpam o direito legítimo do Estado, agindo conforme sua vontade dentro dessas instituições.


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