Luanda - Moradores do bairro
Paraíso, Distrito Urbano dos Mulenvos de Baixo, afirmam estar enfrentando
abusos por parte de uma turma de vigilância comunitária formada para combater a
delinquência. No entanto, essa turma tem adotado práticas de tortura e detenção
como medidas punitivas para aqueles que não seguem as regras por eles
estabelecidas. De acordo com os relatos dos moradores, a turma utiliza armas de
fogo, catanas e outros objetos contundentes durante suas operações.
As pessoas são proibidas de
circular das 23 horas até às 4 horas da manhã. Caso contrário, o indivíduo é
levado e submetido a tortura. Os moradores acusam a turma de vigilância,
composta por elementos questionáveis, incluindo bandidos, agentes da Polícia e
das Forças Armadas Angolanas (FAA), de fornecer as armas. Um dos militares,
Dionísio, é mencionado como participante, residindo próximo à praça dos
Mulenvos.
Os residentes relatam ainda que
são compelidos a contribuir com 200 Kwanzas diariamente para os recursos da
turma, e caso não o façam, enfrentam consequências negativas. Diante dessa
situação, expressam sua insatisfação e apelam por mudanças.
Francisco António Joaquim foi uma
das vítimas, submetido a tortura no último sábado, 23, por volta das 23 horas,
enquanto socializava com amigos e familiares. A situação escalou quando a turma
ordenou que saíssem do local onde estavam consumindo vinho. Mesmo após
recusarem, a tentativa de agressão foi evitada, mas reforços foram chamados,
resultando na chegada de outros membros da turma armados.
José, também vítima de agressões
no mesmo dia, relata que a situação começou devido à detenção de seu irmão de
12 anos. A turma tentou coagi-los a entregar valores monetários para a
liberação do irmão, resultando em agressões físicas.
Os moradores identificam Dionísio,
ex-militar das FAA, como detentor de uma das armas de fogo utilizadas no
incidente. Além disso, apontam outros membros da turma responsáveis pelos
disparos e intimidações.
Savimbi, um dos responsáveis pela
turma, admite o uso de armas de fogo, justificando que são utilizadas apenas
para proteção contra bandidos armados. Os moradores denunciam a participação de
agentes da Polícia e das FAA na turma de vigilância.
A situação já é conhecida pelas
autoridades policiais, com o Serviço de Investigação Criminal (SIC) realizando
intervenções recentes, incluindo a detenção de alguns membros da turma. O
coordenador do bairro também foi detido por falsificar um documento que
indicava a legalização da turma de vigilância, segundo relatos dos lesados.