Jornalista Manuel José defende a despartidarização do Estado e uma educação coletiva




Luanda — O jornalista Manuel José afirmou, nesta terça-feira, 5 de novembro de 2024, no programa Ponto de Equilíbrio, da Rádio Despertar, que algumas formas de abordar as questões políticas e sociais podem ser contraproducentes e dificultam o avanço das mudanças necessárias. “Precisamos de um Estado com instituições despartidarizadas. Uma das abordagens é individualizar a questão. 

Não se trata apenas do presidente. Como mencionámos aqui no programa, o presidente não é o único responsável. Ele pode tentar um terceiro mandato ou até desejar um quarto, mas o seu mandato é limitado, e há uma força maior, Ngana Nzambi (Deus), que pode pôr fim quando quiser. Foi assim com o ex-presidente José Eduardo dos Santos (1992-2017). Na altura, atribuíamos os problemas à sua pessoa, e hoje há quem tenha saudades dele. Mas a questão não é o indivíduo; é a estrutura em que ele e outros estão inseridos — neste caso, o partido no poder. É aí que devemos direcionar as nossas ideias.”

Em seu comentário, Manuel José abordou também a questão do “povo”, afirmando: "Para mim, o povo é um elemento subjetivo. De qual povo estamos a falar? É preciso que esse povo, composto por pessoas, tenha consciência. Se for o mesmo povo que aplaude e dança quando um dirigente inaugura um chafariz, algo que é um direito básico, então já está tudo claro. Quem é esse povo que irá reclamar? Não há quem reclame.” Esta visão sobre o comportamento popular reflete uma preocupação com a consciencialização cívica, mas também abre espaço para um debate mais amplo sobre o papel do cidadão na fiscalização e exigência dos seus direitos. O conceito de "povo" e a forma como ele exerce a sua cidadania continuam a ser discutidos por diversos setores da sociedade angolana, com diferentes interpretações sobre a responsabilidade do indivíduo e da coletividade no processo de mudança social.

Outro ponto importante abordado pelo jornalista foi a educação: “Mas não apenas a educação individual. Não basta um ou outro estudar em universidades de renome e destacar-se; individualmente, ele pode ser anulado. Precisamos de uma educação coletiva. É necessário garantir que ninguém fique de fora: toda criança deve estar na escola, sem exceção. E, após atingir a universalidade, devemos focar na qualidade.” A educação é, de facto, uma das prioridades no desenvolvimento do país, mas especialistas e autoridades educacionais reconhecem os desafios na implementação de políticas educacionais que atendam a todos de forma equitativa. A busca por uma educação inclusiva e de qualidade continua a ser uma meta difícil de alcançar, especialmente nas zonas mais afastadas, onde os recursos e a infraestrutura são limitados.

Por fim, Manuel José concluiu: “Se houver pessoas com consciência, cada uma poderá cumprir o seu papel, onde quer que esteja. Todos juntos e saindo à rua, com consciência e responsabilidade, cada indivíduo, no seu lugar, naturalmente contribuirá para a despartidarização.” A mobilização cidadã é, sem dúvida, um tema importante no cenário político actual, mas a sua eficácia é frequentemente debatida. Embora manifestações e protestos sejam vistos por alguns como formas legítimas de exigir mudanças, outros questionam a sua real capacidade de promover transformações estruturais duradouras.

O ponto de vista partilhado por Manuel José reflete preocupações sobre a necessidade de uma maior separação entre o Estado e os partidos políticos, um tema amplamente discutido por especialistas, líderes políticos e cidadãos. Este debate continua a ser um dos mais relevantes no contexto político actual de Angola, com diferentes grupos a apresentar visões contrastantes sobre como alcançar uma governação mais transparente e eficiente.

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